28 de outubro de 2009

Cola

Primeiramente, não estou fazendo apologia a esse assunto!
É a técnica mais antiga do mundo estudantil. A tão temida pelos professores que passam madrugadas planejando as provas, a tão desejada pelos alunos que não sabem definitivamente nada sobre a matéria.
Uma olhadinha pro lado, pra trás, um papelzinho no casaco ou até na saia são suficientes para burlar as normas escolares. Com a tecnologia de hoje em dia, a cola tem se tornado cada vez mais frequente, estudantes recebem informações até através de mensagem de texto!
Porém, se por um lado os estudantes estão tendo lá suas vantagens com a tecnologia, as escolas também! Câmeras de segurança, que não só apenas reproduzem, mas também gravam imagens.
Que atire a primeira pedra quem nunca, colou ou pensou em colar. Mesmo que uma olhada involuntária para o lado exatamente na questão em que estava com dúvida. O que muita gente não sabe, é que hoje, a cola pode ser uma salvação, a chave que evita notas baixas, mas a pessoa que cola, se habitua a não estudar e apenas conta com a sorte, e isso pode acarretar muitos problemas futuros.


CRISTINA...
COLA X ESTUDAR


Cheguei atrasada na aula, no dia da prova de física. Jess estava com o queixo apoiado entre as mãos, sua cabeça estava distante, talvez não tão distante assim, só algumas salas à direita, mas precisamente na sala do segundo ano. Dei um tapa em sua nuca.
- Ai, idiota! – ela estrilou.
- Acorda pra vida, garota!
Sentei na carteira atrás dela e começamos a bater papo.
- To preocupada, - ela admitiu.
- Com o que? Seu namoro? Me conta… como seu pai reagiu?
Ela riu pra si como se tivesse algo realmente engraçado pra contar.
- Pior do que imaginava!
- Ele não deixou?
- Deixou, mas é que… ah… depois eu conto sobre meu pai ciumento e o mico que ele me fez pagar. Estou preocupada com outra coisa. Você estudou?
- Não, - respondi fazendo uma careta.
- Nem eu, – ela pegou uma presilha e colocou na franja – o Léo foi lá em casa ontem pra assistir a final da taça Guanabara com meu pai, desde que eles se conheceram é Flamengo pra cá, Flamengo pra lá… AFF! Mas ai… o jogo acabou e agente ficou um tempo no portão. Minha cabeça tava longe, nem consegui estudar.
- Eu não estudei por que tava muito cansada.
- Falta de vergonha na cara seria a expressão certa! – Débora falou se aproximando de nós, não tinha reparado que ela já estava em sala.
- A Bruna me ligou, não vai vir hoje à aula. Tá se sentindo mal. – falou Jess mudando de assunto. – Déb… - ela disse com a voz dengosa.
- Nem vem de graça! – Débora estrilou. – Não vou te dar as respostas da prova!
- Não tem problema – Jess exclamou, pegou um lenço de papel em sua mochila, nele estavam escritas todas as fórmulas do capítulo da prova – Eu fiz minha própria cola!
Ela me passou o papel discretamente por baixo da mesa.
- Você é um gênio! E rebelde! Quem é você e o que fez com a Jéssica?
Rimos juntas.
- Vocês não prestam! – falou Déb.
- Sabemos disso!
O diretor entrou na sala e entregou as provas à professora.
- Guardem o material. Só lápis, caneta e borracha sobre da mesa.
Ordenou o diretor. Entregaram as avaliações, eu não sabia absolutamente nada. Eram só cálculos, problemas e palavras difíceis. A sorte é que todas as questões eram de múltipla escolha. Alguns minutos passaram e eu chutei a cadeira da Jéssica.
- Qual é a um? – sussurrei ao ver que a professora tinha ido pro fundo da sala e tinha um aluno conversando com o diretor na porta.
- c, – ela respondeu – a dois, a sete e a nove são “b”.
- E o resto?
- Espera, né?
- Me empresta o papel!
Ela passou a cola por debaixo da mesa, olhei a fórmula que resolveria as questões quatro e cinco. Ao meu lado vi que Débora fazia seus cálculos com facilidade, notei que ela já havia terminado a questão dez e a três. Fiz um esforço pra enxergar qual letra ela tinha marcado.
- Perdeu alguma coisa, Ivanna Cristina? – a professora perguntou, esquecendo-se que só gosto que me chamem pelo segundo nome. – Vire pra frente, na próxima vez vou zerar sua prova.
- Eu não estava fazendo nada! – menti descaradamente.
- Ahãm, sei! Você nunca faz nada.
- Ainda bem que a senhora sabe! – exclamei e alguns alunos riram.
O diretor entrou novamente na sala.
- Professora, pode ir tomar um cafezinho. Vou vigiar essa turma! – ele disse e a turma ficou aterrorizada, até porque, eu e Jess não éramos as únicas trocando informações. – Se eu pegar alguém colando, vou zerar a prova e dar três dias de suspensão.
Déb nos olhou preocupada, faltavam as respostas: três, seis, oito, nove e dez.
- Já fez o cálculo da três? – Jess perguntou, com sua voz não tão baixa como deveria. Sentei no lenço de papel e o puxei um pouco para que entrasse em meu campo de visão. – E a dez?
- Tentei ver da Déb, mas não deu.
- Débora, qual é a dez? – Jess perguntou.
Déb se irritou e inclinou um pouco a cabeça pra nos encarar com uma cara feia.
- Quem mandou não estudar? Usem o lencinho mágico! – debochou.
- Poxa, Déb, só vire a prova um pouco pra cá. – sussurrei.
- Jéssica, Débora e Ivanna Cristina! – O diretor falou com autoridade. – As três, levantem-se e coloquem as provas sobre a mesa.
- Mas diretor Décio, agente não fez nada! – Jess mentiu, ela estava ficando mais convincente nisso. – Eu só pedi a borracha emprestada!
- Porque precisaria de borracha se você só está com canetas sobre a mesa?
Esse diretor não era fácil de enganar.
- Diretor eu não fiz nada! – Débora exclamou, a turma estava em silêncio sepulcral – Só disse que não tinha borracha pra emprestar!
- Vocês não tinham uma desculpa melhor? – ele se aproximou – Andem, levantem!
Nós três levantamos ao mesmo tempo e Déb nos fuzilou com o olhar. Esqueci do papel que eu estava sentada e o diretor o encontrou.
- Olha só! Eu estou produzindo papel na bunda! – exclamei e metade da turma caiu na gargalhada, mas o diretor ficou ainda mais sério.
- Sua bunda então parece mais inteligente que você, sabe até as fórmulas da prova. – ironizou enquanto analisava a cola.
- Pois é… quando eu nasci, o médico olhou pra minha bunda e disse… essa é uma bunda super dotada! Sério, a minha mãe perguntava, cadê o bumbum da mamãe? E ela respondia por cartas, então, ter fórmulas nesse papel não me surpreende, não tenho poder sobre a minha bunda!
Alguns alunos levaram pro lado malicioso.
- Sabe o que me surpreende, Ivanna?
- Cristina!!! – estrilei.
- Tá, Cristina! O que me surpreende é a sua cara de pau!
- Engraçado, sobre ela o médico não disse nada de especial.
- Me esperem na diretoria, seus pais vão gostar muito de saber disso - Obedecemos em silêncio. Minutos depois, Décio veio conversar. Sentou na sua cadeira e nos encarou.
- Olha, eu quero dizer que não tenho nada a ver com isso! – falou Débora.
- Calma, terá sua vez de falar, – o diretor falou me observando – O que tem a dizer em defesa de suas amigas?
Respirei fundo.
- Ninguém estava colando. Apenas trocando informações necessárias no momento da avaliação!
- Ual! Tirou essa idéia de onde?
- Antes que pense, não foi da bunda!
- Será que poderia parar com esse palavreado chulo?
- Qual o problema? Bun-da! Todo mundo tem! Até o senhor apesar de não parecer, talvez com uma lupa agente enxergue.
- Você está brincando com a sorte garota! Eu poderia te dar uma suspensão de duas semanas por isso.
- Tá, pode me dar a suspensão, mas não pra minhas amigas. A Jess e a Débora não fizeram nada! A Déb estava mesmo emprestando a borracha, é que a Jess tem mania de sentir o cheiro de tudo. Quando está nervosa, tem que cheirar borracha. – falei. Pelo menos a última parte não era mentira, a Jess realmente adorava cheirar borracha!
- Isso é verdade, Jéssica? – o diretor perguntou, fiz uma cara pra ela.
- É… - ela mentiu – Poxa diretor, não zere a nossa prova. Nem a da Cris, ela não fez por mal. Até parece que o senhor nunca colou! Dê uma chance, outra prova valendo seis ou sete.
- Não posso fazer isso. O que a Cristina fez foi errado, não pode passar em branco.
- AH! – Jess se desesperou. – Não vou deixar ela se ferrar sozinha! Eu fiz aquele papel, pode ver! É a minha letra. É que eu comecei a namorar há pouco tempo e meu pai nunca foi muito o estilo compreensivo, se eu tirasse nota baixa, ele poderia me proibir de namorar. Mas a Débora não teve nada a ver com isso, eu a Cris que estávamos pedindo cola, mas no momento que o senhor viu, ela não queria dar. Então, pode punir nós duas. Deixe a Déb de fora, ela estudou muito pra essa prova e não pode ficar com zero, até porque, ela não fez nada!
O diretor ficou perplexo com o discurso moralmente correto, até eu me assustei!
- Débora, pode voltar e terminar sua prova.
- Mas diretor e elas?
- Vou cuidar desse assunto, agora vá!
Débora obedeceu.
- Por favor, eu não posso ficar com zero! – Jess disse – Vou perder o namorado!
- Pensasse nisso antes de colar. Não posso passar uma borracha nisso tudo, mas acho que tenho a solução pra vocês. Vou aplicar um simulado de todas as matérias daqui à um mês. Especialmente pra vocês ele vai valer peso dois em física, ou seja, se tirarem sete, será como se na prova de hoje tivessem tirado sete. Vou chamar seu pai aqui e tentar convencê-lo a não acabar com o namoro, e sobre você senhorita Cristina, cuidado com a sua língua se não um dia alguém vai arrancá-la de você.
Coloquei a mão na boca.
- Prometo que vou tentar calar a boca! – falei.
- Amadoras! – ele disse nos surpreendendo – É o que eu sempre digo: se é pra colar, tem que saber colar!
- Não vamos precisar aprender. Vamos estudar! – Jess falou com certo orgulho, mas sem vontade nenhuma de cumprir a promessa.
- Era isso que eu queria ouvir! – admitiu Décio – Não vou dar suspensão, mas seus pais vão ficar sabendo.
Dito e feito. Meu pai quase arrancou meus cabelos com o cortador de grama quando descobriu, me chamou de irresponsável e disse todo aquele discurso paterno. O pai de Jess, xingou, reclamou, mas no fim não acabou com o namoro, mesmo que ele quisesse isso seria difícil de acontecer. No dia seguinte Jess veio pro meu apartamento, estávamos ouvindo música no computador. A campainha tocou, era Déb com uma bolsa gigante nas costas. Fomos até o quarto.
- Tenho um presente pra vocês, e ele está aqui dentro! – ela falou, eu e Jess ficamos eufóricas.
- O que é? É um livro?
- Chocolate?
- Cd?
- Não, bobinhas! – ela riu enquanto pegava algo de dentro da bolsa – Não acha que tá na hora de vocês tomarem vergonha na cara?
Ela jogou alguns livros de física sobre a cama. Eu e Jess nos encaramos e sorrimos em seguida, sabíamos que Déb estava certa.
- Então vamos lá, professora!

2 comentários:

Alessandro "ARC" disse...

Como diz o ditado: "Quem ñ cola ñ sai da escola" rsrsrs

gostei.. ♥

Eliane Couto disse...

Ah se eu fosse diretora dessa escola... ele foi muito bonzinho principalmente com a abusada da Cristina!

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